quinta-feira, 27 de maio de 2010

Relato de uma Competição

Maria Carlos Santos - 21 de Maio 2010

in Federação Portuguesa de Natação - www.fpnatacao.pt
Em Dezembro de 1999, os dias que antecederam os Campeonatos da Europa de Piscina Curta em Lisboa foram atribulados, mas vieram a resultar na minha melhor prestação de sempre na Natação.
Uns dias antes do início dos “Europeus”, onde a concentração deveria estar direccionada para a competição importantíssima que se avizinhava, tive que me deslocar à faculdade para fazer um teste igualmente importante. Foram treinos específicos duros, a cabeça cheia a pensar no teste e na preocupação de me apresentar na melhor forma possível daí a uns dias. Mas acho que sinceramente gostei da pressão de ter dois objectivos tamanhos para ultrapassar. Sentia-me confiante, talvez aliviada por de algum modo ser igual aos meus colegas da faculdade e não ter de faltar ao teste, talvez radiante por representar novamente o meu país e de certo modo o meu concelho em mais uma competição internacional.
Passado o primeiro momento de pressão (o teste da faculdade) e porque sabia que me tinha corrido muito bem, senti uma inundação interior de adrenalina e confiança como nunca tinha sentido antes. Parecia que me poderiam apresentar qualquer desafio que eu conseguiria ultrapassar com um simples piscar de olhos. À tarde na piscina fiz uma série excepcional, sentia-me mesmo bem a nadar costas.
Chegado o dia dos 50m Costas, nadei descontraída de manhã e quando vejo o meu tempo nem queria acreditar, tinha batido o recorde nacional, e como se isso não chegasse tinha-me apurado para a meia-final. Ao almoço não quis comer muito, apenas uma sopa e uma peça de fruta, acho que deveriam ser os nervos. A tarde parecia animadora com as bancadas cheias de gente. Nunca tinha estado numa piscina em Portugal com tanto público amigo a torcer por nós (bem, talvez na Taça Latina um ano antes, mas a competição era, na minha cabeça e aos olhos da comunicação social, menos importante). Sentia-me melhor a cada minuto que passava, a minha prova na meia-final deu-me ainda mais ânimo. Lembro-me que só queria melhorar o tempo que tinha feito de manhã, mas o apuramento para a final e um novo recorde... era demais!
A Final foi inesquecível, quando me desloquei ao som da música para a minha pista não ouvia nada, quando disseram o meu nome ergui a bandeira portuguesa que tinha na mão e aí ouvi o barulho ensurdecedor dos meus “amigos” que estavam na bancada... nadei como nunca. Quando acabei estava feliz por saber que fiz o melhor que conseguia. Lembro-me de procurar o meu nome nos últimos lugares do placard electrónico, mas não estava lá. Comecei a olhar devagarinho para os nomes que apareciam primeiro... e lá estava o meu, no 4.º lugar e com novo recorde... eu nem acreditava, queria rir, chorar, agradecer ao público, queria sair da piscina e abraçar o meu Gonçalo, que foi um dos muitos voluntários que contribuíram para o sucesso geral dos Campeonatos em Lisboa, queria partilhar a alegria que sentia com os meus pais e família, com cada pessoa que esteve naquele dia naquela piscina, e por último, mas não menos importante, com o meu treinador Vasconcelos, que deve ter sentido da mesma forma que eu esta vitória conjunta, resultado de anos de amizade, empenho e cumplicidade que sempre tivemos.

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